Fins e Começos - Marianne Pradier

"Como tantos, é com temor que olho para o que está a acontecer com o nosso mundo: biodiversidade ameaçada, emergência climática, crises políticas e económicas, pandemia, convulsões sociais, nacionalismos a emergir. Enquanto pintora, o meu trabalho é contaminado, se não mesmo moldado, pelo meu estado emocional. E houve uma fase - longa - em que só era capaz de pintar versões do apocalipse iminente. Para assimilar esta ideia, a ideia do fim, tinha de o pintar. Como se, assim, fizesse o meu luto. Mais recentemente, comecei a pintar outras coisas. Ao início, não sabia o que eram, mas depois apercebi-me: estas imagens bizarras, estranhos híbridos, eram a minha projeção do mundo depois de acabar.

E porque nada acaba verdadeiramente. Coisas, mundos, civilizações - tudo se transforma. Perdem determinados traços, mas ganham outros. Algumas espécies extinguem-se, outras passam por mutações para existirem.

Elementos importantes da cultura humana ficam perdidos e esquecidos no tempo: línguas, costumes, deuses. E, claro, outros vão surgindo. Mas pressinto que parte do que temos e conhecemos hoje arranjará forma de permanecer por cá. As estátuas gregas talvez? Noh, a mais antiga tradição teatral ainda viva? As flores e árvores permanecerão certamente. Mas é só um palpite. E vocês o que acham?"

Marianne Pradier